Alimentos orgânicos e convencionais apresentam o mesmo valor nutricional

Pesquisa realizada por nutrólogos britânicos conclui que não há evidências de que os alimentos orgânicos sejam nutricionalmente superiores aos alimentos produzidos no sistema convencional

Todos os alimentos possuem um valor nutricional, o qual está diretamente relacionado à sua composição química e energética, ou seja, à quantidade de substâncias orgânicas e inorgânicas que contém, como gordura, açúcar, vitaminas, sais minerais, entre outras. Para mantermos uma dieta balanceada e saudável é necessário conhecer o valor nutricional dos alimentos que consumimos. Nos alimentos industrializados esse valor está discriminado nas embalagens, porém, nas frutas, legumes e verduras que compramos em feiras e quitandas não há como identificá-lo.

Nesse tempo de polarização entre alimentos orgânicos e convencionais, o engenheiro agrônomo e florestal Dr. Valter Casarin, Coordenador Científico da Nutrientes para a Vida, explica a diferença entre eles.



“É comum ouvir as pessoas comentarem que o alimento orgânico é mais seguro, mais saudável e mais saboroso do que o alimento produzido no sistema convencional. Pesquisa realizada por um grupo de nutrólogos britânicos, e publicada no American Journal of Clinical Nutrition, avaliou todos os trabalhos realizados nos últimos 50 anos sobre o assunto, os quais comparavam os alimentos produzidos no sistema orgânico aos produzidos no sistema convencional. O estudo concluiu que não há evidências de que os alimentos produzidos organicamente são nutricionalmente superiores aos alimentos produzidos no sistema convencional. O estudo mostrou que não houve diferença entre os dois tipos de alimentos em grande parte das variáveis analisadas, como teor de vitamina C, magnésio, cálcio, potássio, zinco, cobre e sólidos solúveis totais”, informa Dr. Casarin.

Ele explica que as plantas absorvem os nutrientes em formas específicas, independentemente do tipo de fonte utilizada, orgânica ou mineral. “Assim, por exemplo, para a planta absorver o nitrogênio, este nutriente deve estar na forma amoniacal (NH4+) ou nítrica (NO3-). É necessário que estas formas estejam disponíveis no solo para que a planta possa absorvê-las e, assim, incorporar o nitrogênio em seu processo metabólico e sintetizar os aminoácidos e, posteriormente, as proteínas.

Devemos saber aplicar corretamente e com responsabilidade as fontes de nutrientes ao solo, visando manter a integridade do meio ambiente”.
Para a produção de alimentos é fundamental avaliar se o solo apresenta todos os nutrientes necessários para a produção desejada. “Se o solo não dispõem de todos os nutrientes que as plantas necessitam para um adequado desenvolvimento, é preciso fornecê-los por meio da adubação. A adubação é calculada de maneira muito simples: deve-se adicionar ao solo a quantidade de nutrientes que a planta necessita subtraída da quantidade disponível existente no solo. O fertilizante deve conter a quantidade de nutrientes necessária para que a planta possa atingir uma produção quantitativa e qualitativamente adequada”.

Nos fertilizantes orgânicos, a liberação de nutrientes ocorre de forma mais lenta, e esta nem sempre está sincronizada com a demanda das plantas. Algumas vezes, para esse tipo de fertilizante, é difícil calcular a quantidade correta de nutrientes a ser aplicada, porém, são produtos que favorecem muito as caraterísticas físicas do solo e a atividade microbiana. Já com a utilização do adubo mineral, explica Dr. Casarin, é possível dosar a quantidade exata de nutrientes a ser aplicada para o perfeito cultivo das plantas. Outra grande vantagem do fertilizante mineral é a rapidez com que os minerais são absorvidos pelas plantas, favorecendo o seu processo de crescimento.

Normalmente, as culturas cultivadas no sistema convencional apresentam maior produtividade devido à adubação mais balanceada e à rápida disponibilização de nutrientes no solo, além do melhor controle de pragas e doenças. “Nesse caso, são reduzidos os fatores que podem afetar negativamente a produtividade, o que permite que as plantas se desenvolvam de forma mais eficiente e adequada. Podemos comparar a nutrição de uma planta à nutrição do homem. O seu desempenho vai ser maior se ele estiver bem alimentado e livre de doenças. Quanto mais sadio, maior será seu desenvolvimento. O mesmo acontece com as plantas”, comenta Dr. Casarin.

Quanto à durabilidade, Dr. Casarin informa que, por não haver diferença nutricional entre os alimentos orgânicos e convencionais, não se pode esperar que exista diferença na durabilidade desses produtos. “A durabilidade está relacionada aos aspectos nutricionais do alimento; assim, se o alimento apresenta em sua composição os nutrientes em teores adequados, é de se esperar que, independentemente da forma de produção, orgânica ou convencional, a durabilidade será semelhante”, esclarece.

Sobre a questão da preservação do meio ambiente, Dr. Casarin explica que o fertilizante, seja orgânico, seja mineral, se for aplicado corretamente, na dose correta, no local correto e na época certa, permitirá melhor aproveitamento pela planta, reduzindo ou mesmo eliminando as perdas para o ambiente.

“Tudo aquilo que está em excesso é prejudicial ao ambiente”, garante Dr. Casarin.

O engenheiro conclui dizendo que “os resultados da pesquisa não são conclusivos em relação à composição nutricional dos alimentos orgânicos e convencionais, mas mostram que há similaridade entre eles. Um fato que devemos lembrar é que um fruto orgânico tem essa denominação devido ao tipo de manejo empregado para produzi-lo. Um produto convencional pode ser considerado um produto orgânico, pois ambos apresentam os mesmos nutrientes e compostos. A diferença está basicamente no processo de produção adotado. As pessoas devem compreender que cada forma de produção tem as suas particularidades. Ambos os fertilizantes têm o propósito de repor os nutrientes que estão em falta no solo e permitir que os vegetais alcancem maiores produtividades, com qualidade nutricional. Esse é o grande objetivo da agricultura praticada com responsabilidade e respeito. Respeito à saúde do solo e à do ser humano, garantindo a segurança alimentar.”














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