“As dores são sentidas de maneira diferente entre os sexos. Experimentos revelaram que as mulheres têm maior capacidade de distinguir as regiões com dor, menor limiar de percepção dolorosa e menor tolerância aos estímulos da dor induzidos do que os homens. Estudos com ressonância magnética funcional demonstraram diferenças no processamento cerebral da dor. Além disso, é fato que as mulheres sejam mais comumente afetadas por dores crônicas”, explica o neurologista Rogério Adas Ayres de Oliveira, coordenador do Departamento Científico de Dor da ABN (Academia Brasileira de Neurologia).
Entre as principais causas possíveis para a predisposição feminina para a ocorrência de dor estão, segundo o neurologista, os ritmos hormonais sexuais cíclicos e grandes variações nas concentrações dos principais hormônios (estrogênio, progesterona e testosterona). Mas ele ressalta que a dor é uma experiência subjetiva e individual que recebe a influência de uma ampla gama de fatores - biológicos, psicocomportamentais, cognitivos e socioculturais – que são orquestrados pelo encéfalo.
“Por isso, a percepção da dor varia muito de pessoa para pessoa. Um determinado estímulo pode ser percebido como mais ou menos doloroso por fatores que vão desde a espessura da pele, limiares das fibras nervosas, atividade inflamatória, fatores hormonais, até atenção, padrões de pensamento e flutuações do humor, ansiedade, medo e humor depressivo, bem como contextos e expectativas sociais, experiências passadas, entre outros”, avalia Rogério Adas.
Mais propensas às dores crônicas, “as mulheres sofrem com as enxaquecas e as cefaleias causadas por tensão, as dores temporo-mandibulares, a fibromialgia (dor que ocorre nos tecidos fibroso e muscular de diferentes partes do corpo), dores crônicas da coluna cervical e lombar, as dores pélvicas, entre outras, enquanto os homens são mais vulneráveis às cefaleias em salvas (que atinge um só lado da cabeça), neuralgias pós-herpéticas (lesões na pele observada após a herpes zoster), entre outras”, relata o médico. Apesar das diferenças na percepção da dor, os tratamentos são similares para ambos os sexos.
“Foram descritos, contudo, diferenças quanto ao perfil de utilização e eficácia de analgésicos entre homens e mulheres. Condições dolorosas cíclicas como as enxaquecas peri-menstuais (antes da menstruação), as dismenorreias (menstruações mais difíceis), entre outras condições podem demandar abordagens específicas”, garante o neurologista.
O médico afirma ainda que é muito difícil diferenciar o papel de cada
fator na experiência dolorosa. “Aspectos genéticos, ambientais, socioculturais são relevantes em proporções variadas em cada indivíduo ou população”, confirma. E além das diferenças na percepção de dor entre os sexos, há as variações entre faixas etárias, etnias e culturas.
“Isso demonstra que a combinação de fatores ambientais associada a diferenças genéticas individuais vai determinar as diferentes suscetibilidades para a ocorrência de dor crônica no decorrer da vida e grande variabilidade na expressão da experiência dolorosa”, conclui.
Fonte: www.acontecenoticias.com.br
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